quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Paraense representa contra Amazonino


Fonte:  A Critica

Bate-boca entre o prefeito e moradora faz senadora Marinor Brito representar contra ele na procuradoria-geral da República

Brasília, 23 de Fevereiro de 2011

ANTÔNIO PAULO

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel do Santos, recebe nesta quarta-feria (23) das mãos da senadora Marinor Brito (PSOL-PA) uma representação contra o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes.
Ela pede ao Ministério Público apuração e investigação de possível crime de discriminação e preconceito contra os migrantes supostamente cometido pelo chefe do Poder Executivo da capital do Amazonas.
Na última segunda-feira (21), o prefeito Amazonino se dirigiu à dona de casa Laudenice Paiva, moradora da comunidade Santa Marta, Zona Norte de Manaus. Por causa das fortes chuvas, houve desmoronamento que levou a morte de três pessoas.
Além de dizer que a moradora deveria “morrer” se ficasse na área de risco, o prefeito perguntou qual a origem da moradora. “Sou do Pará”, disse. Amazonino Mendes respondeu: “Então pronto, está explicado”.
A bancada parlamentar do Pará, no Senado, reagiu nesta terça-feria (22) às declarações do prefeito de Manaus consideradas preconceituosas com a população do Estado.
Senadores paraenses ocuparam a tribuna para repudiar e exigir pedido de desculpas do chefe do Poder Executivo da capital amazonense. Marinor Brito (PSOL-PA), Mário Couto (PSDB-PA) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA) receberam solidariedade de senadores da Amazônia, como João Pedro (PT-AM) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), e de outros Estados, como Eduardo Suplicy (PT-SP) e Marcelo Crivela (PRB-RJ), que também criticaram a atitude.
Para a senadora Marinor Brito, a atitude do prefeito Amazonino Mendes gerou uma situação de humilhação a uma mulher trabalhadora, honesta que está, como muitos migrantes no País, buscando uma forma de sobreviver. Segundo ela, a migração é uma pratica comum no Brasil, na região amazônica aonde as políticas públicas não chegam como a política de habitação, de geração de renda e emprego.
Citou como exemplos a entrada e saída de maranhenses no Pará; de paraenses no Amapá, no Amazonas e dos nordestinos, rumo ao Sudeste do País, principalmente para São Paulo.
“O que nós não podemos aceitar é que pela falta de condições de vida digna essas pessoas sejam tratadas de forma discriminatória principalmente pelo chefe do Poder Executivo, eleito pelo povo, de uma cidade que tem tradição de ser solidária com quem nela vai viver. A Procuradoria Geral da República precisa investigar, tomar uma atitude com relação a essa manifestação clara de discriminação não somente contra uma paraense, mas contra uma amazônida, uma brasileira”, disse a senadora do PSOL paraense.
O senador Flexa Ribeiro disse que foi um equívoco de Amazonino e amenizou dizendo que o prefeito “tem muito carinho por todos os amazônidas”.
Prefeito diz que houve ‘um mal entendido‘
Ao site g1.com.br, o prefeito Amazonino Mendes disse que houve “um grande mal-entendido” em relação ao que afirmou durante visita a área de risco na cidade.
“Na verdade, eu fui para lá salvar vidas, cumprir com meu dever. Fui para lá ver o problema e é natural se ver que as pessoas em área de risco podem morrer. Aí uma moradora, o que é natural, desavisada, discutiu sobre o aspecto de não sair de lá. Então eu digo: ’Então morra, morra... É que a senhora pode morrer', seria a mesma coisa, a mesma expressão”, afirmou Amazonino.
Ele disse ainda que não houve discriminação com paraenses. “Não é Pará. É Roraima, Maranhão. Quem não é de Manaus vem para cá. É uma cidade complexa, diferente. E ficam fazendo habitações em lugares impróprios. Nós estamos cheios deste tipo de problema. Não foi discriminação, nada disso”, argumentou o prefeito.
Segundo nota distribuída na última segunda-feira (21) pela Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom), “ao final da reunião com os populares Amazonino foi aplaudido ao anunciar que comprará um terreno próximo ao local e dará kits de madeira para construção de novas casas. E enquanto isso, irá pagar aluguel para as famílias saírem das zonas de risco”.
A assessoria completa que a discussão se “acirrou porque, inicialmente, o clima emocional era muito forte diante das fatalidades (uma mulher e duas crianças morreram soterradas no local após um desmoronamento de terra) e os moradores se recusavam em sair do local de risco. O prefeito fez um ‘apelo incisivo’, pelo risco de morte dos moradores”.
Braga considera declaração ‘infeliz’
Provável adversário de Amazonino nas eleições municipais de 2012, o senador Eduardo Braga não fez comentários incisivos com relação às declarações do prefeito.
Limitou-se a dizer: “Foi muito infeliz. Não quero fazer nenhum comentário porque todos sabem da minha posição política em relação ao prefeito. Mas, muito infeliz, triste, lamentável”.
Braga rememorou as divergências ao citar entrevista recente do prefeito ao jornal A CRÍTICA. “Ele disse ter grandes divergências comigo e que temos práticas diferentes. Uma delas é essa”.
Questionado se a polêmica poderá se refletir na campanha eleitoral do próximo ano, o senador disse que “aí é o povo que vai dizer. Só acho que ele foi muito, muito infeliz. Foi lamentável o episódio. Lamento profundamente que isso tenha ocorrido no nosso Estado”, declarou ele no plenário do Senado.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) não quis fazer críticas virulentas a Amazonino. “Todo mundo, de cabeça quente, está sujeito a falar o que não deve, a dizer algo errado. Foi o que aconteceu. O prefeito deveria imediatamente pedir desculpas porque a manifestação dele não foi uma coisa simples; foi descaso com quem está sofrendo, na verdade, preconceituosa contra os migrantes”.
O senador Marcelo Crivela (PRB-RJ) ficou indignado com as declarações do prefeito e disse que a bancada paraense terá apoio na manifestação ao procurador-geral da República.
Para Eduardo Suplicy (PT-SP), Amazonino deve desculpas ao povo do Pará e a todos aqueles que migram para outros lugares em busca de melhoria de vida.



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